quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Resenha do livro Casa de Pensão

Livro: Casa de Pensão

Autor: Aluísio Azevedo

Páginas: 334

ISBN: 978-85-7232-977-4

Editora: Martin Claret


Este romance de Aluísio Azevedo foi inspirado num fato real, a Questão Capistrano, crime que sensibilizou a cidade do Rio de Janeiro em 1876/77, envolvendo dois estudantes. O livro foi publicado em 1884, seguindo os padrões dos estilos Naturalista e Realista. Uma técnica comum ao escritor naturalista é o abuso dos detalhes de tal modo que a história caminha devagar e monótona. É a necessidade de dar ao leitor uma impressão segura de que tudo é realidade.

É também uma marca do autor tratar de vários problemas, tais como preconceitos de classe, de raças, a miséria e as injustiças sociais.  Neste livro ele descreve a vida nas pensões “familiares”, onde se hospedavam jovens que vinham do interior para estudar na capital. Diferente do Romantismo, o Naturalismo enfatiza o lado doentio do ser humano, as perversões dos desejos e o comportamento das pessoas influenciado pelo meio em que vivem. O jogo de interesses movido pelo dinheiro é o centro das relações entre as personagens desta história.

Amâncio é um rapaz rico, saído do Maranhão para estudar Medicina no Rio de Janeiro. Ele sonha com os deslumbramentos da Corte. Chega cheio de ilusões e com pouca vontade para estudar. De início Amâncio começa morando na casa do Senhor Campos, amigo de seu Pai. Contra a sua vontade matricula-se na Escola de Medicina. Seu maior desejo era o de começar uma vida livre, para compensar o tempo em que viveu escravizado às imposições do pai. As extravagâncias de chegar altas horas da noite, faltar às aulas, embebedar-se, não lhe eram permitidas na casa de Campos. Por isso aceita o convite de João Coqueiro, proprietário de uma casa de pensão, junto com a sua mulher Mme. Brizard para morar em um dos quartos. O que o ingênuo não sabe é que há um jogo sujo de baixos interesses, sobretudo de dinheiro. O maior desejo de Coqueiro é arranjar o casamento de sua irmã Amelinha com o maranhense. Por isso Amâncio é tratado com toda a pompa, já que todos queriam aproveitar o máximo do dinheiro do rapaz. Amélia não se faz de rogada e faz a sua parte no jogo de sedução a Amâncio.

A casa de pensão traz personagens de todas as índoles, com uma promiscuidade generalizada, apesar da falsa moralidade pregada pelo seu dono.  Com a chegada do rico estudante, ele tornou-se irresistível para Lúcia, uma mulher interesseira que vive com o Senhor Pereira na casa de pensão. Após engravidar do primo em segundo grau, este volta para o Rio Grande do Sul e nunca mais retornou. Com a honra arruinada, Lúcia então decide viver com Pereira, já que ele estava sempre na casa dos seus pais. Mas ao cobrar o matrimônio, Pereira revela que já é casado. Lúcia então se diz casada para manter as aparências e seu grande sonho é casar-se com um homem rico. Amâncio é visto como sua grande chance.

Durante toda a narrativa, é perceptível como Amâncio é galante e se enamora das mulheres facilmente. Encanta-se por Dona Hortência, mulher de Campos, tem interesse também em Lúcia e depois de um tempo torna-se amante de Amelinha, irmã de Coqueiro. Este, por outro lado, cada vez mais começa a fazer de Amâncio o pagador de suas contas. A ganância por dinheiro é retratada em vários momentos.

A grande reviravolta se dá quando Amâncio torna a se enamorar por Dona Hortência. Chega-lhe a escrever uma carta apaixonada, declarando seu amor, mas quem descobre a carta é Amelinha, que a esconde e depois a entrega ao irmão. Todos então redobram os “cuidados” com o maranhense, com medo de perderem a grande mina de ouro. O pai de Amâncio morre no Maranhão. Ele pretendia voltar, a pedido da mãe para vê-la e também para administrar os negócios que o pai deixara, logo que terminassem os seus exames de medicina.

Com medo de perder a influência sobre Amâncio, Amelinha exige que eles se casem, mas diante da negativa, o ameaça com a promessa de que vai contar a todos que ele a desgraçou. Amâncio então prepara sua viagem às escondidas, mas no dia do embarque é preso, ao ser acusado de sedutor e de ter tirado a honra de Amelinha. João Coqueiro preparou toda a trama e entregou o caso ao famoso e desonesto advogado Teles de Moura, que forja duas testemunhas contra o rapaz.

Há uma repercussão geral na imprensa sobre o julgamento. A população fica dividida de início, sendo que a maioria dos estudantes se coloca ao lado de Amâncio. O senhor Campos prepara-se para ajudar o seu protegido, mas Coqueiro lhe faz chegar às mãos uma carta comprometedora que Amâncio escrevera à sua senhora, D. Hortênsia. Campos fica então arrasado e desiste de ajudar o rapaz, uma vez que este não soube respeitar a casa que o acolheu. O processo judicial dura em torno de três meses e ao final Amâncio é absolvido da acusação e sai vitorioso.

A cidade olhava para o maranhense com curiosidade e admiração. As pessoas lhe jogavam flores, ouviam-se vivas ao estudante, os músicos alemães tocaram a Marselhesa, parecia um carnaval carioca.Em outro plano, Coqueiro, sozinho, vendo e ouvindo tudo, a alma envenenada de raiva. Chegaram cartas anônimas com as maiores ofensas. Acuado, pegou, na gaveta, o revólver que era de seu pai e pensou em se matar. Carregou a arma acertou o cano no ouvido, mas não teve coragem. Debaixo de sua janela, gritavam injúrias pela sua covardia e mau caráter. No dia seguinte, de manhã cedo, saiu apressado e foi ao Hotel Paris, onde sabia que estava o Amâncio. Bateu no quarto onde se encontrava o estudante com uma rapariga. Esta abriu a porta e Coqueiro pode ver Amâncio que dormia tranqüilo, depois da festa e da bebedeira, de barriga para cima. Se pestanejar, Coqueiro dispara a queima-roupa, vários tiros em Amâncio. Antes de morrer, o estudante leva seu pensamento até a mãe querida, e sua última palavra é chamá-la, antes de morrer.


Coqueiro tenta fugir, mas é agarrado por um policial. A cidade se enche de comentários. Muitos visitam o necrotério para ver o cadáver de Amâncio. Vendem-se retratos do morto. Um funeral grandioso com a presença de pessoas ilustres e até políticos é feito. A cidade inteira está abalada e a opinião pública começa a mudar de posição. Ao final, João Coqueiro começa a levar créditos da sociedade, pois tinha lavado a honra da irmã.


Minha Opinião


Eu gosto muito de romances naturalistas e realistas, para mim Aluísio Azevedo é o melhor autor deste movimento literário. Além de escritor, ele é sobretudo um crítico social. Casa de Pensão trouxe personagens inesquecíveis, com suas mazelas, mesquinharias e a ganância por dinheiro. Achei muito interessante também retratar os conflitos humanos tendo como pano de fundo uma habitação coletiva. Assim como a obra O Cortiço, Aluísio mostra como um ambiente degradante e promíscuo pode levar a decadência do ser humano. 

Nota: 💓💓💓💓


Curiosidades


  • O caso Capistrano envolveu dois jovens estudantes da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, em 1876.Antes da tragédia João Capistrano da Cunha e Antônio Alexandre Pereira eram amigos inseparáveis. A mãe de Antônio é dona de uma casa de pensão e aluga um quarto para o amigo do filho. Ele então conhece Júlia, irmã de Antônio, e logo eles começam a namorar. Passado algum tempo, Capistrano violenta a namorada e depois recusa-se a casar, abandonando a Casa de Pensão. É então indiciado pela família da moça e vai a julgamento. Após um longo processo, é absolvido pelo Júri. Inconformado com a desonra da irmã, Antônio mata João Capistrano. Ele vai a júri novamente, só que agora na condição de réu.   Os debates atraem mais gente que no episódio anterior do defloramento. Agora a coisa é outra: as antipatias populares, até ontem contra a família Pereira, transforma-se então em simpatias pelo assassino. O mesmo júri, que absolve o primeiro, absolveu também o segundo. Inocenta-o por unanimidade de votos. E o acusado é carregado em triunfo pelos mesmos colegas, que ovacionaram o morto da véspera.

O Autor


Aluísio Tancredo Belo Gonçalves de Azevedo foi um romancista, cronista, diplomata e jornalista brasileiro. Nascido em São Luís (Maranhão), Aluísio viajou para o Rio de Janeiro aos 17 anos a chamado do irmão, o teatrólogo Artur Azevedo. Começou a estudar na Academia Imperial de Belas-Artes e logo passou a colaborar, com caricaturas e poesias, em jornais e revistas.

Trabalhando como jornalista,ia aos locais onde pretendia ambientar seus romances, conversava com as pessoas que inspirariam suas personagens, misturava-se a elas. Procurava assim reproduzir o mais fielmente possível a realidade que retratava. Além disso, desenhista habilidoso, às vezes, desenhava suas personagens em papel cartão, recortava-as e as colocava em ação, num teatro para si mesmo, de modo a visualizar as cenas que iria narrar.


Foi um crítico impiedoso da sociedade brasileira e de suas instituições. Abandonou as tendências românticas em que se formara, para tornar-se o criador do naturalismo no Brasil, influenciado por Eça de Queirós e Émile Zola. Seus temas prediletos, focados na realidade cotidiana, foram o anticlericalismo, a luta contra o preconceito de cor, o adultério, os vícios e a vida do povo humilde.

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