Autor: Truman Capote
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 9788535909203
Assuntos: Contos
Este
conto foi o primeiro trabalho publicado de Capote, em junho de 1945. Foi com
esta história também que ele conquistou o prêmio “O. Henry”, por melhor conto
inédito. Narrado em terceira pessoa, Capote traz a personagem H. T. Miller ,
uma viúva solitária que mal fala com seus vizinhos.
“Os demais moradores do prédio nunca pareciam perceber a presença dela: suas roupas eram comuns, o cabelo era cinza escuro, preso e com ondulações naturais; ela não usava cosméticos, suas feições eram simples e discretas e no último aniversário fizera sessenta e um anos.”
Um dia, ao ver o anúncio de um
novo filme que estreara no cinema, a Sra. Miller resolve sair para comprar o
ingresso do tal filme. Durante quase todo o conto está nevando na cidade, o que
dá uma certa melancolia a história. Enquanto aguardava na fila para comprar o bilhete,
ela encontra a garotinha Miriam pela primeira vez.
“Tinha o cabelo mais comprido e mais estranho que já vira, totalmente branco prata, como de um albino. Descia até a cintura em fios lisos e soltos. Era magra e de físico frágil. Havia uma elegância simples, especial no seu jeito de se postar, com os polegares metidos nos bolsos de um casaco bem justo de veludo cor de ameixa.”
A Sra. Miller sente-se estranhamente confusa e ligada à garota e surpreende-se ao saber que elas possuem o mesmo nome. Após verem o filme, elas se despedem uma da outra. Passado alguns dias, Miriam aparece tarde da noite na casa da Sra. Miller. E é aí que a vida dessa senhora sai completamente do eixo. Ela percebe o quanto Miriam é estranha e ao mesmo tempo familiar.
“Gosto do tapete, azul é minha cor favorita.” Tocou numa rosa de papel num vaso sobre a mesinha de café. “Imitação” comentou desanimada. “Que triste. As imitações não são tristes?”
Em certos momentos da história,
Miriam chega a ser assustadora e cruel:
“O canário começou a cantar; cantar como cantava de manhã e em nenhuma
outra hora. “Miriam”, ela chamou. “Miriam, eu falei para não perturbar o
Tommy.” Não houve resposta. Chamou de novo; só ouviu o canário. Levou a comida
numa bandeja, que pôs em cima da mesinha de café. Primeiro viu que a gaiola
continuava coberta com a capa. E Tommy cantava. Teve uma sensação esquisita. E
não havia ninguém na sala.”
“(...) seguiu
direto para a mesinha de café, agarrou o vaso que continha as rosas de papel,
levou-o até o local onde a superfície do
chão estava vazia e arremessou-o para baixo. Vidros espalharam-se para todos os
lados, e ela pisoteou o buquê. Depois, lentamente, caminhou até a porta, mas,
antes de fechá-la, olhou para trás na direção da Sra. Miller com uma curiosidade
marotamente ingênua”.
O que essa
garota é da Sra. Miller? Porque só ela a vê? O que está acontecendo de errado?
Este conto pode ter várias interpretações. Dá para perceber que existe uma
duplicidade nas personagens, que em alguns momentos uma parece ser o reflexo da
outra (mais nova) ou que Miriam é um fantasma funesto que aparece para
assombrar a Sra. Miller. Difícil saber. Achei o conto pavoroso (de arrepiar
mesmo) e ele é fantástico. Merece ser lido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário