quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Conto: Miriam

Livro: 20 Contos de Truman Capote

Autor: Truman Capote

Editora: Companhia das Letras

ISBN: 9788535909203

Tradução: Vários tradutores

Assuntos: Contos



Este conto foi o primeiro trabalho publicado de Capote, em junho de 1945. Foi com esta história também que ele conquistou o prêmio “O. Henry”, por melhor conto inédito. Narrado em terceira pessoa, Capote traz a personagem H. T. Miller , uma viúva solitária que mal fala com seus vizinhos.



“Os demais moradores do prédio nunca pareciam perceber a presença dela: suas roupas eram comuns, o cabelo era cinza escuro, preso e com ondulações naturais; ela não usava cosméticos, suas feições eram simples e discretas e no último aniversário fizera sessenta e um anos.”

Um dia, ao ver o anúncio de um novo filme que estreara no cinema, a Sra. Miller resolve sair para comprar o ingresso do tal filme. Durante quase todo o conto está nevando na cidade, o que dá uma certa melancolia a história. Enquanto aguardava na fila para comprar o bilhete, ela encontra a garotinha Miriam pela primeira vez.
“Tinha o cabelo mais comprido e mais estranho que já vira, totalmente branco prata, como de um albino. Descia até a cintura em fios lisos e soltos. Era magra e de físico frágil. Havia uma elegância simples, especial no seu jeito de se postar, com os polegares metidos nos bolsos de um casaco bem justo de veludo cor de ameixa.”

A Sra. Miller sente-se estranhamente confusa e ligada à garota e surpreende-se ao saber que elas possuem o mesmo nome. Após verem o filme, elas se despedem uma da outra. Passado alguns dias, Miriam aparece tarde da noite na casa da Sra. Miller. E é aí que a vida dessa senhora sai completamente do eixo. Ela percebe o quanto Miriam é estranha e ao mesmo tempo familiar.

“Gosto do tapete, azul é minha cor favorita.” Tocou numa rosa de papel num vaso sobre a mesinha de café. “Imitação” comentou desanimada. “Que triste. As imitações não são tristes?”

Em certos momentos da história, Miriam chega a ser assustadora e cruel:

O canário começou a cantar; cantar como cantava de manhã e em nenhuma outra hora. “Miriam”, ela chamou. “Miriam, eu falei para não perturbar o Tommy.” Não houve resposta. Chamou de novo; só ouviu o canário. Levou a comida numa bandeja, que pôs em cima da mesinha de café. Primeiro viu que a gaiola continuava coberta com a capa. E Tommy cantava. Teve uma sensação esquisita. E não havia ninguém na sala.”

“(...) seguiu direto para a mesinha de café, agarrou o vaso que continha as rosas de papel,  levou-o  até  o  local  onde  a superfície do chão estava vazia e arremessou-o para baixo. Vidros espalharam-se para todos os lados, e ela pisoteou o buquê. Depois, lentamente, caminhou até a porta, mas, antes de fechá-la, olhou para trás na direção da Sra. Miller com uma curiosidade marotamente ingênua”.


O que essa garota é da Sra. Miller? Porque só ela a vê? O que está acontecendo de errado? Este conto pode ter várias interpretações. Dá para perceber que existe uma duplicidade nas personagens, que em alguns momentos uma parece ser o reflexo da outra (mais nova) ou que Miriam é um fantasma funesto que aparece para assombrar a Sra. Miller. Difícil saber. Achei o conto pavoroso (de arrepiar mesmo) e ele é fantástico. Merece ser lido.











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