Autor: Gabriel Garcia Marquez
Editora: Record
ISBN: 9788501008619
Tradutor: Remy Gorga Filho
Assunto: Contos
Olhos de cão azul é um livro de
contos escrito por Gabriel Garcia Marquez entre 1947 a 1955, cujo tema
principal é a morte. O realismo fantástico se faz presente quando você percebe
que o sonho virou realidade, os mortos falam ou quando chove sem parar por
vários dias. O real e a fantasia se confundem o tempo todo.
Neste conto que dá nome ao livro,
um “casal” que conversam sobre a sua relação que só existe enquanto eles
dormem. Ou seja, um conhece o outro através do sonho, mas na vida real eles
nunca se viram. Durante todo o conto, que se passa em um quarto simples, o diálogo
é permeado por uma meia luz, e muitos olhares. E como se olham. Uma mulher cor
de cobre e um homem que a vê mesmo com o rosto voltado para a parede.
Confesso que precisei ler este
conto mais de uma vez, pois a primeira sensação foi de estranhamento. Não senti
a presença da morte propriamente dita. E depois da releitura é que percebi que
a morte neste conto está no sentido figurado, pois este casal se desfaz quando
acorda. Então é como se eles “morressem”.
O nome olhos de cão azul faz
referência aos olhos da mulher, que é de um tom cinzento e brilhante. E esta
expressão acaba se tornando um código para o casal, eles sempre dizem “olhos de
cão azul” um para o outro.
“Então olhou para mim. Pensava que olhava para mim pela primeira vez.(...) Foi então que lembrei o de sempre, quando lhe disse: "Olhos de cão azul". Ela me disse, sem tirar a mão do abajur: "Isso. Já não o esqueceremos nunca". Saiu da órbita suspirando: "Olhos de cão azul. Escrevi isso por todas as partes”.
O sentido mais aguçado
neste sonho é a visão. O corpo da mulher que brilha à luz da vela, as
sombras que se projetam em seu rosto quando uma mão passa por cima da chama. O
homem está fascinado por aquela mulher etérea, a mulher desespera-se por suas
lembranças do que considera seu mundo desperto. Já o homem, quando
acordado, esquece.
“Há vários anos nos víamos. Às vezes, quando já estávamos juntos, alguém deixava cair lá fora uma colherinha e acordávamos. Pouco a pouco íamos compreendendo que nossa amizade estava subordinada às coisas, aos acontecimentos mais simples. Nossos encontros terminavam sempre assim, com o cair de uma colherzinha na madrugada”.
O conto termina com o mesmo mistério, beleza e magnetismo do início. É uma espécie de sonho hipnótico, que conta uma história de amor forte, porém não realizado.
"Amanhã vou reconhecer você por isso", disse. "Vou reconhecê-la quando vir na rua uma mulher que escreva nas paredes: 'Olhos de cão azul'". E ela, com um sorriso triste — que já era um sorriso de entrega ao impossível, ao inatingível —, disse: "Não obstante, você não lembrará nada durante o dia". E voltou a pôr as mãos sobre o abajur, com a expressão obscurecida por uma névoa amarga: "Você é o único homem que, ao acordar, não se lembra nada do que sonhou".
P.S: Muitos acham que a mulher do conto é a morte. O que você acha?
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