segunda-feira, 6 de março de 2017

Resenha do livro A Moreninha


Editora: Ática



Coleção: Bom Livro



ISBN: 9788508154210



Número de Páginas: 168


Temas: clássico da literatura brasileira, Romance



A Moreninha foi considerado o primeiro romance do Romantismo Brasileiro. Conta a história de amor entre Augusto e Carolina, que traz a idealização do amor puro, que nasce na infância e que permanece com o tempo. Tudo começa quando os amigosAugusto, Leopoldo, Fabrício e Felipe fazem uma aposta. Augusto é o mais “namorador” do grupo, ele mesmo se declara inconstante e incapaz de amar uma mulher por mais de três dias.  O trato então proposto por Felipe é de levar os amigos para passarem o feriado de Sant’ana na casa de sua avó, na ilha de Paquetá. E a missão de Augusto é de que se voltasse da ilha sem ter se apaixonado verdadeiramente por uma das garotas, Filipe escreveria um romance. Caso se apaixonasse, Augusto é quem deveria escrevê-lo.

Antes da viagem, Fabrício envia uma carta para Augusto, onde conta sobre o seu namoro com Joaninha, que não está indo muito bem. É uma garota exigente, quer receber quatro cartas por semana, quer que Fabrício use um lenço da mesma cor da fita presa a seus cabelos, entre outros absurdos. Fabrício pede então a ajuda a Augusto para “se livrar” do namoro.

Ao chegar à ilha, Augusto é apresentado a Dona Ana, avó de Felipe, Carolina sua irmã (a moreninha) e suas primas Joana (Joaninha) e Joaquina (Quinquina). Fabrício então pergunta a Augusto se ele vai ajudá-lo a terminar o namoro e este o recusa, causando a ira do colega. Logo após a discussão, Felipe os convida para o jantar. Na mesa, após todos terem se servido, Fabrício começa a criticar Augusto, acusando-o de ser volúvel no amor. Na tentativa de se defender, Augusto agrava mais ainda sua situação perante todos. Ele acaba ficando isolado pelas moças, apenas a anfitriã Dona Ana aceitou passear com ele.

Durante o passeio pela Ilha, Augusto revela a Dona Ana que sua inconstância no amor se deve com as desilusões amorosas que já viveu e conta um episódio interessante que aconteceu em sua infância. Em uma viagem com a família para a praia, ele conheceu uma menina com quem brincara e se apaixonou. Juntos ajudaram um homem que estava prestes a morrer e como forma de agradecimento ele entregou um breve (espécie de escapulário de tecido) para ambos. O breve de Augusto continha um botão de esmeralda da menina e o dela tinha um camafeu de Augusto. O homem ainda profetizou que eles iriam se casar. E essa é a única lembrança que ele tem da menina, pois nem o seu nome ele sabia e nunca mais a viu.

Na noite do sarau Carolina estava muito bonita, com um vestido que mostrava parte de suas pernas. Todos queriam dançar com ela, que só dançou com Augusto. Ele por sua vez dançou com todas as moças e jurou-lhes amor eterno, inclusive para a Moreninha. No fim da festa Augusto encontrou um bilhete que estava  em seu paletó, dizendo para ir à gruta no horário marcado e logo após encontrou outro no qual dizia que aquilo era uma armadilha.

Augusto foi até a gruta no horário marcado e encontrou as quatro jovens e antes que elas pudessem falar, foram surpreendidas pelo rapaz que contou cada uma das fofocas que ouvira da boca delas. As moças ficaram revoltadas e depois de irem embora, Augusto foi surpreendido pela Moreninha que começou a contar a conversa dele com Dona Ana. Mas primeiro ela tomou um copo da fonte e foi por este motivo que Augusto ficou mais impressionado, pois se lembrou da lenda da fonte encantada, e logo depois do susto, declarou-se a ela.

O fim de semana termina e os jovens retornam para os estudos. Augusto não se cansava de contar sobre Carolina para Leopoldo, que sempre dizia que aquilo era amor. Os rapazes acharam conveniente então que Augusto voltasse à ilha para visitar a Moreninha. O pai de Augusto, vendo que as visitas a moça se tornaram constantes e achando que isso estava atrapalhando seus estudos, proíbe o filho de visitar Carolina. Depois de um tempo distantes, Augusto volta a Ilha para se declarar. Mas ela o repreende por estar quebrando a promessa feita a uma garotinha há anos atrás. Augusto fica confuso e preocupado, até que Carolina mostra o seu camafeu. O mistério então é desfeito, Carolina é a garotinha que ele conheceu na praia e por quem se apaixonara. Para pagar a aposta, Augusto escreve o livro A Moreninha.

Minha Opinião:

Esse livro foi lido por muitas pessoas, então a identificação é muito grande, que acredito ser em parte do próprio movimento romântico, que traz o amor com final feliz, e o sonho da mulher idealizada. Por outro lado acredito que parte de seu sucesso se deve também pelo autor, que trouxe elementos da cidade e do campo tipicamente brasileiros, e com isso fugiu dos modelos portugueses que eram comuns à época. Achei o livro encantador, saber um pouco dos costumes da época, como era a paquera, tudo “casou” perfeitamente. Chamo a atenção também para a lenda da índia Ahy, que espera incansavelmente por seu amado Aoitin, contada por Dona Ana á Augusto. É uma linda história. Tem também uma narrativa simples e ágil, além de resgatar sentimentos como fidelidade, honra e amor. Sentimentos esses que estão cada vez mais em desuso, não é mesmo?

Minha nota:  ❤❤❤❤❤

 Curiosidades:

A obra de Joaquim Manuel de Macedo mostra os costumes e a organização da sociedade que se formava no século XIX no Rio de Janeiro: os estudantes de medicina, os bailes, a tradição da festa de Sant’Ana , o flerte das moças etc. Também está presente a cultura nacional, através da lenda da gruta, em que  o choro de uma moça que se apaixonou por um índio e não foi correspondida se transforma na fonte que corre na gruta.
O romance A Moreninha é considerado o primeiro romance romântico brasileiro. Apresenta uma linguagem simples, um enredo que prende o leitor com algum suspense e um final feliz típico dessa fase do movimento do Romantismo. A obra remonta o cenário da alta sociedade carioca em meados do século XIX. Joaquim Manuel de Macedo ganhou notoriedade na corte carioca, pois a obra caiu no gosto do público.

A Moreninha já virou telenovela por duas vezes, à primeira em 1965 e a segunda em 1975, ambas pela Rede Globo.. A primeira versão foi uma das primeiras produções da TV Globo a contar com gravações externas, na Ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro. Já a segunda versão foi à primeira novela das seis produzida em cores. No cinema, Sônia Braga interpretou Carolina em 1.970.



O Autor:


Joaquim Manuel de Macedo foi um médico, político, professor, jornalista e romancista brasileiro. É o patrono da cadeira número 20 da Academia Brasileira de Letras. O livro A Moreninha é o seu primeiro romance e também o primeiro romance considerado da literatura brasileira. Fundou poucos anos mais tarde a revista Guanabara, juntamente com Gonçalves Dias, onde publicava muitos dos seus textos.
O escritor é um dos fundadores do romantismo brasileiro e foi um importante representante da primeira geração do movimento. Ligado à família imperial, foi preceptor dos filhos da Princesa Isabel, além de dar aulas a eles. Deu aulas também de história e geografia no Colégio Pedro 2º. O escritor foi membro do Instituto Histórico e Geográfico, atuando até como presidente da instituição. Além de ter atuado como deputado. Faleceu no Rio de Janeiro no dia 11 de Abril de 1.882.



sexta-feira, 3 de março de 2017

Resenha do livro A Revolução dos Bichos

Livro: A Revolução dos Bichos

Autor: George Orwell

Páginas: 156

ISBN: 8535909559

Editora: Companhia das Letras


Tradução: Heitor Aquino Ferreira



Publicado em 1945, no início da Segunda Grande Guerra, A Revolução dos Bichos é uma obra de grande importância e popularismo. Em uma época de grande tensão devido à guerra, o mundo se dividia em dois blocos, o socialista e o capitalista. O autor George Orwell era socialista, mas não fechou os olhos para a utopia do movimento. Neste livro ele faz uma reflexão da impossibilidade da igualdade entre os homens, tendo em vista que o homem é um ser mortal, passível de erros e que pode ser corrompido.

A história traz uma série de metáforas que remetem ao período histórico em que a obra foi escrita. Tudo se passa em uma granja, que inicialmente pertence ao Sr. Jones, que é alcoólatra e muito cruel com os animais. Insatisfeitos com a exploração, os animais decidem fazer uma revolução. São liderados pelo porco Major, que ao ter um sonho, conta-o para os seus amigos em uma reunião, onde propõe a Revolução. Major sabia que morreria logo, portanto tratou logo de “semear” suas idéias revolucionárias. Após sua morte, os animais se organizam e expulsam o Sr. Jones da granja. Os porcos passam a liderar, pois são considerados os animais mais inteligentes. Logo o lema da luta passa a ser de que o inimigo é aquele que anda sobre duas pernas. É  fundado o regime do “Animalismo”.Uma série de “mandamentos” são instituídos para todos seguirem.

A história de Orwell é considerada como uma fábula satírica, onde a realidade é retratada com um toque cômico. Quando o Sr. Jones era o dono da granja, explorava o trabalho animal em benefício próprio. Em troca ele “pagava” esses animais com uma alimentação razoável e nem sempre suficiente. É a comparação do sistema capitalista, onde quem mais trabalha menos ganha. Após a revolução, a idéia do porco Major era o de instituir a igualdade entre os seres, portanto o Animalismo se assemelha ao Socialismo, regime que não cultua a propriedade privada, onde todos são iguais e trabalham para o bem comum. No princípio até houve uma democracia, as idéias eram discutidas por todos. Havia dois porcos, Napoleão e Bola de Neve; que se tornaram líderes do movimento. Como já foi dito, os porcos eram os mais inteligentes, foram eles que aprenderam a ler e a escrever.

Com o passar do tempo, as idéias de Bola de Neve passaram a divergir com as de Napoleão. Bola de Neve é considerado mais popular e mais democrático. Já Napoleão é mais autoritário e egoísta. Bola de Neve propõe a construção de um moinho, mas Napoleão é contra. É feita então uma eleição na granja, para escolher um líder. Apesar da maioria ser a favor de Bola de Neve, Napoleão arma um golpe para expulsar Bola de Neve da granja e ser considerado um traidor. Os personagens lembram personalidades históricas; Major tem semelhanças idealistas como Karl Marx, Napoleão é autoritário e ditador, com uma administração corrupta, assemelhando-se a Stálin e por fim Bola de Neve lembra Trótski, rival de Stálin.

Após o exílio de Bola de Neve, o governo de Napoleão torna-se um pesadelo. Os porcos usam a liderança para conseguir cada vez mais benefícios para si mesmos e passam a negligenciar os demais animais. O Animalismo praticamente tornou-se uma ditadura. Os mandamentos do Animalismo são alterados a todo instante, sempre com o intuito de burlar as regras. Com isso, Napoleão estabelece vínculos comerciais com os homens, para acumular riquezas e ter regalias, tudo a custa de seus animais “empregados”. Ele passa a ser escoltado por grandes cães ferozes, que os chama cinicamente de “defensores da Revolução”, para coagir possíveis rebeldes.

A situação torna-se mais crítica quando os homens tentam retomar o poder da granja. Muitos animais morrem durante o confronto. Apesar da vitória dos bichos, a luta traz conseqüências gravíssimas. Napoleão insiste em dizer que por trás deste ataque está Bola de Neve e executa vários “supostos traidores”. Após alguns anos de liderança na granja, Napoleão já ocupava a casa do Sr. Jones, bebia álcool, vestia roupas e andava sobre duas pernas. Por isso a célebre passagem do final do livro, onde o autor deixa claro que já não era mais possível distinguir, quando reunidos à mesa, os porcos dos homens.

“Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais do que os outros”.

“Doze vozes gritavam cheias de ódio e eram todas iguais. Não havia dúvida agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco”.

Minha Opinião:

Um dos melhores livros que li este ano. Eu sei que a caminhada é longa, mas fiquei encantada com a história. Escrito a mais de setenta anos e tão atual. Sua obra além de uma crítica bem feita, é também um alerta de como o poder pode corromper as pessoas (digo, aqui animais!)

Nota: 💓💓💓💓💓

Curiosidades:

A Revolução dos Bichos é até hoje muito aclamado pelos críticos, considerado um dos melhores romances ingleses de todos os tempos. A obra pode ser considerada uma metáfora para narrar a traição soviética, onde princípios iniciais teriam sido esquecidos no decorrer da Revolução.

O Animalismo é uma ideologia fictícia que satiriza o Stalinismo.

Foi feito uma animação do livro de Orwell em 1954, sendo inclusive indicada ao prêmio Bafta de melhor animação em 1956. Tem no youtube, legendado em português. Acesse: https://youtu.be/xyjaZBnNdw0

 Sobre o autor:



George Orwell é o pseudônimo de Eric Arthur Blair, que nasceu na Índia Britânica. Foi escritor, jornalista e ensaísta político. Sua obra é marcada por uma inteligência perspicaz e bem humorada, com uma consciência profunda das injustiças sociais. Apontado como simpatizante da proposta anarquista, o entusiasmo do autor pelo socialismo democrático não foi abalado pela experiência do socialismo soviético, regime que Orwell denunciou em sua sátira “A Revolução dos Bichos”. Faleceu vítima de tuberculose na Inglaterra em 1950.





quarta-feira, 1 de março de 2017

Conto: Restos do Carnaval

Livro: Felicidade Clandestina

Autora: Clarice Lispector

Editora: Rocco

ISBN: 85-325-0817-0


Este conto de Clarice Lispector traz mais vez uma passagem da sua infância. É o desejo íntimo de uma garotinha de oito anos que quer curtir o Carnaval pelas ruas do Recife.

 "Não, não deste último carnaval. Mas não sei por que este me transportou para a minha infância e para as quartas-feiras de cinzas nas ruas mortas onde esvoaçavam despojos de serpentina e confete. Uma ou outra beata com um véu cobrindo a cabeça ia à igreja, atravessando a rua tão extremamente vazia que se segue ao carnaval. Até que viesse o outro ano. E quando a festa ia se aproximando, como explicar a agitação íntima que me tomava? Como se enfim o mundo se abrisse de botão que era em grande rosa escarlate. Como se as ruas e praças do Recife enfim explicassem para que tinham sido feitas. Como se vozes humanas enfim cantassem a capacidade de prazer que era secreta em mim. Carnaval era meu, meu”.

Sob uma ótica nostálgica, Clarice fala dessa atmosfera de festa dentro da sua perspectiva pessoal, do conflito de uma criança diante das manifestações de alegria, de tantas pessoas diferentes, do quanto se sente assustada e maravilhada ao mesmo tempo. Ela nunca havia participado de fato do carnaval, nem nunca tinha se fantasiado. Mas ganhava confetes e lança-perfume, o que a já deixava muito feliz. Ficava observando os foliões até tarde da noite pela escada do sobrado em que morava. Achei bem interessante o momento que ela escreve sobre as máscaras, que são um artifício para festas, mas que para ela, de certa forma, muitas pessoas usam máscaras o tempo todo, em seus próprios rostos.

“E as máscaras? Eu tinha medo, mas era um medo vital e necessário porque vinha de encontro à minha mais profunda suspeita de que o rosto humano também fosse uma espécie de máscara”.

Nesta época em sua casa as maiores preocupações eram para a doença de sua mãe, portanto os adultos não se preocupavam com o seu carnaval de criança. Mesmo assim sua irmã enrolava seus cabelos lisos, porque a menina os queria que fossem frisados, nem que fosse apenas nos dias de carnaval. 

“Nesses três dias, ainda, minha irmã acedia ao meu sonho intenso de ser uma moça - eu mal podia esperar pela saída de uma infância vulnerável - e pintava minha boca de batom bem forte, passando também ruge nas minhas faces. Então eu me sentia bonita e feminina, eu escapava da meninice”.

Por sorte aquele carnaval foi diferente, quase milagroso. A mãe de uma amiga fez para ela uma fantasia de rosa com papel crepom. Nesta passagem do conto, fica explícita a felicidade de Clarice, que se sentiu “tonta”. Novamente o desejo de fantasiar-se, de sair da mesmice, de sentir-se especial.

“Naquele carnaval, pois, pela primeira vez na vida eu teria o que sempre quisera: ia ser outra que não eu mesma” (...) Mas por que exatamente aquele carnaval, o único de fantasia, teve que ser tão melancólico? De manhã cedo no domingo eu já estava de cabelos enrolados para que até de tarde o frisado pegasse bem. Mas os minutos não passavam, de tanta ansiedade. Enfim, enfim! Chegaram três horas da tarde: com cuidado para não rasgar o papel, eu me vesti de rosa”.

Durante os preparativos sua mãe piorou e pediram-lhe para comprar remédios. Saiu correndo pela rua, vestida de rosa, sem batom e sem ruge. De certa forma essa “nudez” de pintura a deixou abalada e triste, como se tivesse morrido por dentro. Nessa hora, o carnaval não teve mais sentido. Sentia-se culpada em ficar alegre com a mãe adoentada.Ela não se considerava mais uma rosa, os seus encantos de fadas tinham desaparecido e o encantamento também. Após a agitação, sua irmã consegue enfim pintar o seu rosto,  e ela sai pelas ruas com sua amiguinha. Mas ela se sente como uma palhaça. O que traz sua alegria de novo é a abordagem de um garoto mais velho, que joga confete em seus cabelos.

“Só horas depois é que veio a salvação. E se depressa agarrei-me a ela é porque tanto precisava me salvar. Um menino de uns 12 anos, o que para mim significava um rapaz, esse menino muito bonito parou diante de mim e, numa mistura de carinho, grossura, brincadeira e sensualidade, cobriu meus cabelos, já lisos, de confete: por um instante ficamos nos defrontando, sorrindo, sem falar. E eu então, mulherzinha de 8 anos, considerei pelo resto da noite que enfim alguém me havia reconhecido: eu era, sim, uma rosa”.

É nítido que este conto traz uma carga emocional muito forte. Clarice expõe sua infância pobre, a difícil realidade familiar, a urgência pela felicidade, a necessidade de ser outra pessoa e também o sentimento de culpa em relação à doença da mãe. Há também um rito de passagem, onde o fantasiar-se e pintar o rosto é como se deixasse para trás a garotinha e nascesse então a mulher, a rosa. É o desabrochar da sua feminilidade. Mais uma vez com maestria, Clarice traz uma história sensível, onde não escreve e sim se escreve.





quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Resenha do livro Tristão e Isolda

Livro: Tristão e Isolda

Autor:Anônimo

ISBN: 9788572326346

Tradutor: Fernandel Abrantes

Páginas:144

Editora: Martin Claret


Coleção: A Obra Prima de cada autor

 A lenda de Tristão e Isolda é da época medieval e tem origem céltica. Trata-se de uma das mais belas histórias de amor já conhecida. As primeiras versões foram escritas no século X. Os trovadores anglo-normandos de língua francesa e a rainha Leonor de Aquitânia contribuíram para a sua difusão na Europa. O texto original foi reconstituído através das versões mais antigas. A história foi incluída nas lendas arturianas (Rei Artur) e voltou a ter grande destaque entre os poetas europeus do século XIX.

O primeiro capítulo do livro traz a infância de Tristão, que era filho de um rei chamado Rivalen. Rivalen era amigo do rei Marcos da Cornualha. A Cornualha era uma terra disputada por muitos e o perigo da guerra era iminente. Em prova da amizade, o Rei Marcos ofereceu a mão de sua irmã, Brancaflor a Rivalen. Eles se casaram e logo Brancaflor ficou grávida. 

Um dos inimigos do Rei Marcos era o Duque Morgan, que passou a atacar cidades e castelos, ameaçando o reino da Cornualha. Rivalen então volta para a guerra e acaba morrendo, sem conhecer seu filho. Brancaflor quase morre também ao saber da perda do marido. Ao filho que nasceu, deu o nome de Tristão, pois este nasceu em meio a tristeza. E ela também falece dias depois.

Tristão passa a ser criado por homens de bem, que pertenciam ao reino de seu pai. Rohald, conhecido por Defensor da Fé, criou Tristão como um filho. Ele cresceu e tornou-se um jovem leal, forte e corajoso. Até que um dia, andando pelas terras, encontrou um caçador. Este matara um cervo, mas estava com dificuldades em cortar a carne. Tristão que era um bom caçador, cortou a carne em pedaços e ajudou a conservá-la. Este caçador era servo do Rei Marcos, ele convida Tristão para ir até o Rei. Tristão ao conhecer o Rei e contar a sua história, descobre que Marcos é seu tio. Passa então a servi-lo e a honrá-lo. Marcos fica encantado com o sobrinho.

Certa vez, a pedido do tio, Tristão viaja até a Irlanda em busca de Isolda, a Loura, para então desposá-la e tornar-se a rainha da Cornualha. A mãe de Isolda era uma mulher conhecedora de ervas e poções. Confiou a acompanhante da filha, uma jovem chamada Brangien, um frasco com uma espécie de poção do amor. Era para Isolda e Marcos tomarem no dia do casamento. Mas durante o caminho, por uma infelicidade (ou felicidade?) do destino, Tristão e a princesa é quem tomam a poção mágica. Imediatamente nasce um sentimento poderoso entre os dois, que desperta um intenso, imediato e eterno amor. 

Isolda se casa com o Rei Marcos, mas ama perdidamente Tristão, que também não consegue ficar longe dela. Grande parte da história é essa luta para esconder o romance impossível entre eles. Muitos invejosos do Reino começam a desconfiar do romance e envenenam a cabeça do Rei Marcos. Este custa a perceber a traição.Até que finalmente são descobertos. Para evitarem a fúria do rei e a morte, Tristão e Isolda fogem, ficando foragidos por um tempo. Até que Tristão resolve voltar e devolver Isolda ao Rei, pedindo clemência por ambos. Marcos que ama muito a esposa e o sobrinho, aceita Isolda novamente mas exila Tristão. Este parte para as terras da Bretanha. Ele até se casa com outra mulher, mas seu coração pertence a Isolda. 

Ao lutar com um inimigo, Tristão é ferido por uma espada envenenada, então adoece. E assim ele quer ver Isolda mais uma vez. Combina então com um vassalo, seu braço direito, que vá até a Cornualha trazer a amada. Pediu que ele fosse em seu barco, e que levasse duas velas, uma branca e outra negra. Se retornasse com Isolda, que içasse a vela branca, caso não tivesse sucesso içasse a vela preta. A esposa de Tristão ouve toda a conversa atrás da porta e fica cega de ciúmes, prometendo se vingar. O vassalo vai até a Cornualha como prometido e consegue convencer Isolda a ver Tristão. Ao chegar ao mar da Bretanha, a esposa mente para o marido, dizendo que o barco está com a vela preta içada. Tristão então acredita que Isolda não veio e morre. Ao ver o amado morto, Isolda também morre, pois ela beija seus lábios envenenados. 

"Mas durante a noite, do túmulo de Tristão desabrochou um espinheiro verde e enfolhado, de fortes ramos, de flores odorantes, que se elevando sobre a capela penetrava no túmulo de Isolda. Sobre a tumba de Tristão e Isolda nascem dois arbustos, cujos galhos entrelaçados, não podem ser separados."



Trata-se de um romance do amor cortês, pois há vários obstáculos e provações durante a história. O principal tema do romance proibido é a problemática da morte. Já que em vida as coisas não podem dar certo por causa da proibição, então a saída, é a concretização deste amor após a morte. Mortos, os personagens Tristão e Isolda são sepultados juntos e segundo a lenda, uma árvore entrelaça os túmulos. É como se fosse uma espécie de metáfora, indicando que o amor deles vencera.

Minha nota:

Curiosidades:

  • Existe uma ópera em três atos chamada Tristan und Isolde, composta entre 1857 e 1859 pelo alemão Richard Wagner. A ópera, que retrata os personagens como heróis românticos, foi baseada na obra de Gottfried von Strassburg (c. 1210) sobre a lenda.

  • O mito chegou cedo ao cinema. Já em 1909 estreou o filme francês mudo Tristan et Yseult. Em 1948, Jean Delannoy dirigiu O Eterno Retorno, uma adaptação do mito aos tempos modernos, com Madeleine Sologne e Jean Marais nos papéis principais. Em 2006 chegou aos cinemas uma nova versão, Tristan & Isolde, produzida por Ridley Scott, estrelada por James Franco e Sophia Myles.


  • O mito de Tristão e Isolda também aparece na coleção "As Crônicas de Artur" do escritor inglês Bernard Cornwell, em seu segundo volume "O Inimigo de Deus". Nesta versão, Tristão, filho de Rei Mark de Kernow, conhece Isolda, filha do Rei Irlandês Oengus Mac Airem, que está prometida ao seu pai, porém ambos se apaixonam, rebelam-se contra o reino, e são posteriormente executados.

  • E, em Brumas de Avalon, a autora Marion Bradley, no quarto livro da série, refere-se a Tristão e Isolda quando Uwaine (enteado de Morgana vai visitá-la em Gales do Norte e lhe fala sobre as notícias do reino e ele fala com certo horror sobre a traição de Isolda ao rei Marc, que é conhecida como a prostituta), e que Tristão (Drustan) teria partido para um exílio na Bretanha. Que por sinal é quando Bédier narra que Tristão foge para Bretanha sofrendo a dor profunda de seu amor e por amizade e lealdade a um companheiro de guerra (que lá conhece, de nome Kaherdin) se casa com a irmã dele, Isolda das Brancas Mãos.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

O Mistério do 5 Estrelas - Projeto releitura da Coleção Vaga-Lume

Livro: O Mistério do Cinco Estrelas

Autor: Marcos Rey

Coleção Vaga-Lume

Segmento: Literatura juvenil

Temas: mistério, policial, aventura


Dando continuidade ao projeto releituras da Coleção Vaga-Lume, o livro escolhido desta vez foi o Mistério do Cinco Estrelas. É um dos meus favoritos! 

É a história de Léo, um adolescente de 16 anos que trabalha como bellboy (mensageiro) no luxuoso Emperor Park Hotel. Ele conseguiu o emprego através de Guima, o porteiro, que é um grande amigo da família. Léo é um garoto inteligente e observador, logo faz amizade com vários funcionários e conhece a rotina dos hóspedes permanentes do Hotel.

“ A maioria dos hóspedes do Park parecia ter cinco estrelas estampadas na testa: gente importante, preocupada com telefonemas internacionais, políticos, desportistas e artistas famosos que recebiam jornalistas ou deles fugiam, evitando fotos e entrevistas.”

Um desses hóspedes que moram no hotel é Oto Barcelos, que tem o apelido de Barão. Ele é bem famoso na cidade por ajudar instituições de caridade e realizar obras beneficentes. Ele tem o costume de pedir diariamente para que comprem os jornais. Léo foi o escolhido do dia para realizar a tarefa. É quando ele vê dentro do quarto do Barão um homem no banheiro. De início o que chamou a atenção do garoto foram os traços indígenas deste novo homem; ao retornar com o jornal Léo percebe que tem um corpo embaixo da cama e que o roupão do Barão está sujo de sangue.

Intrigado, ele conta o ocorrido a Guima, que o orienta a ficar calado. Mas o fato não sai da cabeça de Léo. No dia seguinte ele resolve por conta própria procurar o corpo do tal homem. Ele o acha já morto, dentro de um carrinho de limpeza, porém é surpreendido com um golpe de caratê na cabeça e desmaia. Ao acordar, o corpo já havia sumido. Léo então procura o gerente para falar sobre o assassinato, só que ele é acusado de roubo pelo Barão. Sem conseguir provar sua inocência, é demitido.

Passado alguns dias, Léo vai até a Medicina Legal olhar um corpo que foi encontrado. E reconhece como sendo o mesmo homem que vira morto no Hotel. Porém o delegado suspeita de Léo. Determinado a provar que ocorrera um crime e que o responsável por ele é o Barão, o garoto começa a investigar por conta própria.  É quando conhecemos Gino, primo de Léo, rapaz muito inteligente e ótimo jogador de xadrez. É a grande mente detetivesca da história.

Com a ajuda de Gino, eles tentam encontrar provas para incriminar o Barão. A narrativa que é ágil, conta também com situações engraçadas e cheia de perigos. Outro ponto alto da história é o quase romance entre Léo e Ângela, a garota por quem ele é apaixonado. Ângela acredita na inocência de Léo e o ajuda a fugir dos bandidos numa das passagens mais engraçadas do livro. Vocês vão ter que ler para saberem!   

Como foi escrito na década de 80, foi muito engraçado ver os personagens usarem recursos como orelhão telefônico, ou pedir para pessoas irem até a casa das outras para dar um simples recado. Nesta época não existia internet ou celular e isso fez com que os personagens se desdobrassem um pouco mais para alcançar os seus objetivos.

Após muitas partidas de xadrez, perigos e reviravoltas, a polícia começa a acreditar na inocência de Léo e passa a investigar o Barão. Eles descobrem que ele faz parte de uma quadrilha de contrabando de drogas. Suas ações beneméritas são para “despistar” a justiça. O Barão e seus comparsas são enfim capturados e Léo é recontratado como chefe dos mensageiros no Emperor Park Hotel.

Que delícia de releitura! Pretendo ler ainda este ano outra história com esses personagens, que é outro ótimo livro do Marcos Rey, Um cadáver ouve rádio. E vou resenhá-lo também. 💗

Minha nota:

Curiosidades:


  • Edmundo Donato é o verdadeiro nome de marcos Rey, que nasceu em São Paulo no dia 17 de fevereiro de 1925 – São Paulo e faleceu em 1 de abril de 1999. Marcos foi também redator de programas de televisão, adaptou os clássicos A Moreninha de Joaquim Manuel de Macedo em forma de telenovela e o Sítio do Pica pau Amarelo.
  • Os personagens Léo, Gino e Ângela aparecem em outras histórias: O Rapto do Garoto de Ouro, Um cadáver ouve rádio e Um Rosto no Computador.
  • Atualmente a coleção de livros juvenis do Marcos Rey não fazem mais parte da Coleção Vaga-Lume. São publicados agora pela Editora Global. Olha como ficou a capa da última edição do livro:




domingo, 19 de fevereiro de 2017

Conto: Olhos de Cão Azul

Livro: Olhos de Cão Azul

Autor: Gabriel Garcia Marquez

Editora: Record

ISBN: 9788501008619

Tradutor: Remy Gorga Filho

Assunto: Contos


Olhos de cão azul é um livro de contos escrito por Gabriel Garcia Marquez entre 1947 a 1955, cujo tema principal é a morte. O realismo fantástico se faz presente quando você percebe que o sonho virou realidade, os mortos falam ou quando chove sem parar por vários dias. O real e a fantasia se confundem o tempo todo.

Neste conto que dá nome ao livro, um “casal” que conversam sobre a sua relação que só existe enquanto eles dormem. Ou seja, um conhece o outro através do sonho, mas na vida real eles nunca se viram. Durante todo o conto, que se passa em um quarto simples, o diálogo é permeado por uma meia luz, e muitos olhares. E como se olham. Uma mulher cor de cobre e um homem que a vê mesmo com o rosto voltado para a parede.

Confesso que precisei ler este conto mais de uma vez, pois a primeira sensação foi de estranhamento. Não senti a presença da morte propriamente dita. E depois da releitura é que percebi que a morte neste conto está no sentido figurado, pois este casal se desfaz quando acorda. Então é como se eles “morressem”.

O nome olhos de cão azul faz referência aos olhos da mulher, que é de um tom cinzento e brilhante. E esta expressão acaba se tornando um código para o casal, eles sempre dizem “olhos de cão azul” um para o outro.

Então olhou para mim. Pensava que olhava para mim pela primeira vez.(...) Foi então que lembrei o de sempre, quando lhe disse: "Olhos de cão azul". Ela me disse, sem tirar a mão do abajur: "Isso. Já não o esqueceremos nunca". Saiu da órbita suspirando: "Olhos de cão azul. Escrevi isso por todas as partes”. 

O sentido mais aguçado neste sonho é a visão. O corpo da mulher que brilha à luz da vela, as sombras que se projetam em seu rosto quando uma mão passa por cima da chama. O homem está fascinado por aquela mulher etérea, a mulher desespera-se por suas lembranças do que considera seu mundo desperto.  Já o homem, quando acordado, esquece.

Há vários anos nos víamos. Às vezes, quando já estávamos juntos, alguém deixava cair lá fora uma colherinha e acordávamos. Pouco a pouco íamos compreendendo que nossa amizade estava subordinada às coisas, aos acontecimentos mais simples. Nossos encontros terminavam sempre assim, com o cair de uma colherzinha na madrugada”.
O conto termina com o mesmo mistério, beleza e magnetismo do início. É uma espécie de sonho hipnótico, que conta uma história de amor forte, porém não realizado.
"Amanhã vou reconhecer você por isso", disse. "Vou reconhecê-la quando vir na rua uma mulher que escreva nas paredes: 'Olhos de cão azul'". E ela, com um sorriso triste — que já era um sorriso de entrega ao impossível, ao inatingível —, disse: "Não obstante, você não lembrará nada durante o dia". E voltou a pôr as mãos sobre o abajur, com a expressão obscurecida por uma névoa amarga: "Você é o único homem que, ao acordar, não se lembra nada do que sonhou".

P.S: Muitos acham que a mulher do conto é a morte. O que você acha?

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Resenha do livro Casa de Pensão

Livro: Casa de Pensão

Autor: Aluísio Azevedo

Páginas: 334

ISBN: 978-85-7232-977-4

Editora: Martin Claret


Este romance de Aluísio Azevedo foi inspirado num fato real, a Questão Capistrano, crime que sensibilizou a cidade do Rio de Janeiro em 1876/77, envolvendo dois estudantes. O livro foi publicado em 1884, seguindo os padrões dos estilos Naturalista e Realista. Uma técnica comum ao escritor naturalista é o abuso dos detalhes de tal modo que a história caminha devagar e monótona. É a necessidade de dar ao leitor uma impressão segura de que tudo é realidade.

É também uma marca do autor tratar de vários problemas, tais como preconceitos de classe, de raças, a miséria e as injustiças sociais.  Neste livro ele descreve a vida nas pensões “familiares”, onde se hospedavam jovens que vinham do interior para estudar na capital. Diferente do Romantismo, o Naturalismo enfatiza o lado doentio do ser humano, as perversões dos desejos e o comportamento das pessoas influenciado pelo meio em que vivem. O jogo de interesses movido pelo dinheiro é o centro das relações entre as personagens desta história.

Amâncio é um rapaz rico, saído do Maranhão para estudar Medicina no Rio de Janeiro. Ele sonha com os deslumbramentos da Corte. Chega cheio de ilusões e com pouca vontade para estudar. De início Amâncio começa morando na casa do Senhor Campos, amigo de seu Pai. Contra a sua vontade matricula-se na Escola de Medicina. Seu maior desejo era o de começar uma vida livre, para compensar o tempo em que viveu escravizado às imposições do pai. As extravagâncias de chegar altas horas da noite, faltar às aulas, embebedar-se, não lhe eram permitidas na casa de Campos. Por isso aceita o convite de João Coqueiro, proprietário de uma casa de pensão, junto com a sua mulher Mme. Brizard para morar em um dos quartos. O que o ingênuo não sabe é que há um jogo sujo de baixos interesses, sobretudo de dinheiro. O maior desejo de Coqueiro é arranjar o casamento de sua irmã Amelinha com o maranhense. Por isso Amâncio é tratado com toda a pompa, já que todos queriam aproveitar o máximo do dinheiro do rapaz. Amélia não se faz de rogada e faz a sua parte no jogo de sedução a Amâncio.

A casa de pensão traz personagens de todas as índoles, com uma promiscuidade generalizada, apesar da falsa moralidade pregada pelo seu dono.  Com a chegada do rico estudante, ele tornou-se irresistível para Lúcia, uma mulher interesseira que vive com o Senhor Pereira na casa de pensão. Após engravidar do primo em segundo grau, este volta para o Rio Grande do Sul e nunca mais retornou. Com a honra arruinada, Lúcia então decide viver com Pereira, já que ele estava sempre na casa dos seus pais. Mas ao cobrar o matrimônio, Pereira revela que já é casado. Lúcia então se diz casada para manter as aparências e seu grande sonho é casar-se com um homem rico. Amâncio é visto como sua grande chance.

Durante toda a narrativa, é perceptível como Amâncio é galante e se enamora das mulheres facilmente. Encanta-se por Dona Hortência, mulher de Campos, tem interesse também em Lúcia e depois de um tempo torna-se amante de Amelinha, irmã de Coqueiro. Este, por outro lado, cada vez mais começa a fazer de Amâncio o pagador de suas contas. A ganância por dinheiro é retratada em vários momentos.

A grande reviravolta se dá quando Amâncio torna a se enamorar por Dona Hortência. Chega-lhe a escrever uma carta apaixonada, declarando seu amor, mas quem descobre a carta é Amelinha, que a esconde e depois a entrega ao irmão. Todos então redobram os “cuidados” com o maranhense, com medo de perderem a grande mina de ouro. O pai de Amâncio morre no Maranhão. Ele pretendia voltar, a pedido da mãe para vê-la e também para administrar os negócios que o pai deixara, logo que terminassem os seus exames de medicina.

Com medo de perder a influência sobre Amâncio, Amelinha exige que eles se casem, mas diante da negativa, o ameaça com a promessa de que vai contar a todos que ele a desgraçou. Amâncio então prepara sua viagem às escondidas, mas no dia do embarque é preso, ao ser acusado de sedutor e de ter tirado a honra de Amelinha. João Coqueiro preparou toda a trama e entregou o caso ao famoso e desonesto advogado Teles de Moura, que forja duas testemunhas contra o rapaz.

Há uma repercussão geral na imprensa sobre o julgamento. A população fica dividida de início, sendo que a maioria dos estudantes se coloca ao lado de Amâncio. O senhor Campos prepara-se para ajudar o seu protegido, mas Coqueiro lhe faz chegar às mãos uma carta comprometedora que Amâncio escrevera à sua senhora, D. Hortênsia. Campos fica então arrasado e desiste de ajudar o rapaz, uma vez que este não soube respeitar a casa que o acolheu. O processo judicial dura em torno de três meses e ao final Amâncio é absolvido da acusação e sai vitorioso.

A cidade olhava para o maranhense com curiosidade e admiração. As pessoas lhe jogavam flores, ouviam-se vivas ao estudante, os músicos alemães tocaram a Marselhesa, parecia um carnaval carioca.Em outro plano, Coqueiro, sozinho, vendo e ouvindo tudo, a alma envenenada de raiva. Chegaram cartas anônimas com as maiores ofensas. Acuado, pegou, na gaveta, o revólver que era de seu pai e pensou em se matar. Carregou a arma acertou o cano no ouvido, mas não teve coragem. Debaixo de sua janela, gritavam injúrias pela sua covardia e mau caráter. No dia seguinte, de manhã cedo, saiu apressado e foi ao Hotel Paris, onde sabia que estava o Amâncio. Bateu no quarto onde se encontrava o estudante com uma rapariga. Esta abriu a porta e Coqueiro pode ver Amâncio que dormia tranqüilo, depois da festa e da bebedeira, de barriga para cima. Se pestanejar, Coqueiro dispara a queima-roupa, vários tiros em Amâncio. Antes de morrer, o estudante leva seu pensamento até a mãe querida, e sua última palavra é chamá-la, antes de morrer.


Coqueiro tenta fugir, mas é agarrado por um policial. A cidade se enche de comentários. Muitos visitam o necrotério para ver o cadáver de Amâncio. Vendem-se retratos do morto. Um funeral grandioso com a presença de pessoas ilustres e até políticos é feito. A cidade inteira está abalada e a opinião pública começa a mudar de posição. Ao final, João Coqueiro começa a levar créditos da sociedade, pois tinha lavado a honra da irmã.


Minha Opinião


Eu gosto muito de romances naturalistas e realistas, para mim Aluísio Azevedo é o melhor autor deste movimento literário. Além de escritor, ele é sobretudo um crítico social. Casa de Pensão trouxe personagens inesquecíveis, com suas mazelas, mesquinharias e a ganância por dinheiro. Achei muito interessante também retratar os conflitos humanos tendo como pano de fundo uma habitação coletiva. Assim como a obra O Cortiço, Aluísio mostra como um ambiente degradante e promíscuo pode levar a decadência do ser humano. 

Nota: 💓💓💓💓


Curiosidades


  • O caso Capistrano envolveu dois jovens estudantes da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, em 1876.Antes da tragédia João Capistrano da Cunha e Antônio Alexandre Pereira eram amigos inseparáveis. A mãe de Antônio é dona de uma casa de pensão e aluga um quarto para o amigo do filho. Ele então conhece Júlia, irmã de Antônio, e logo eles começam a namorar. Passado algum tempo, Capistrano violenta a namorada e depois recusa-se a casar, abandonando a Casa de Pensão. É então indiciado pela família da moça e vai a julgamento. Após um longo processo, é absolvido pelo Júri. Inconformado com a desonra da irmã, Antônio mata João Capistrano. Ele vai a júri novamente, só que agora na condição de réu.   Os debates atraem mais gente que no episódio anterior do defloramento. Agora a coisa é outra: as antipatias populares, até ontem contra a família Pereira, transforma-se então em simpatias pelo assassino. O mesmo júri, que absolve o primeiro, absolveu também o segundo. Inocenta-o por unanimidade de votos. E o acusado é carregado em triunfo pelos mesmos colegas, que ovacionaram o morto da véspera.

O Autor


Aluísio Tancredo Belo Gonçalves de Azevedo foi um romancista, cronista, diplomata e jornalista brasileiro. Nascido em São Luís (Maranhão), Aluísio viajou para o Rio de Janeiro aos 17 anos a chamado do irmão, o teatrólogo Artur Azevedo. Começou a estudar na Academia Imperial de Belas-Artes e logo passou a colaborar, com caricaturas e poesias, em jornais e revistas.

Trabalhando como jornalista,ia aos locais onde pretendia ambientar seus romances, conversava com as pessoas que inspirariam suas personagens, misturava-se a elas. Procurava assim reproduzir o mais fielmente possível a realidade que retratava. Além disso, desenhista habilidoso, às vezes, desenhava suas personagens em papel cartão, recortava-as e as colocava em ação, num teatro para si mesmo, de modo a visualizar as cenas que iria narrar.


Foi um crítico impiedoso da sociedade brasileira e de suas instituições. Abandonou as tendências românticas em que se formara, para tornar-se o criador do naturalismo no Brasil, influenciado por Eça de Queirós e Émile Zola. Seus temas prediletos, focados na realidade cotidiana, foram o anticlericalismo, a luta contra o preconceito de cor, o adultério, os vícios e a vida do povo humilde.