sexta-feira, 3 de março de 2017

Resenha do livro A Revolução dos Bichos

Livro: A Revolução dos Bichos

Autor: George Orwell

Páginas: 156

ISBN: 8535909559

Editora: Companhia das Letras


Tradução: Heitor Aquino Ferreira



Publicado em 1945, no início da Segunda Grande Guerra, A Revolução dos Bichos é uma obra de grande importância e popularismo. Em uma época de grande tensão devido à guerra, o mundo se dividia em dois blocos, o socialista e o capitalista. O autor George Orwell era socialista, mas não fechou os olhos para a utopia do movimento. Neste livro ele faz uma reflexão da impossibilidade da igualdade entre os homens, tendo em vista que o homem é um ser mortal, passível de erros e que pode ser corrompido.

A história traz uma série de metáforas que remetem ao período histórico em que a obra foi escrita. Tudo se passa em uma granja, que inicialmente pertence ao Sr. Jones, que é alcoólatra e muito cruel com os animais. Insatisfeitos com a exploração, os animais decidem fazer uma revolução. São liderados pelo porco Major, que ao ter um sonho, conta-o para os seus amigos em uma reunião, onde propõe a Revolução. Major sabia que morreria logo, portanto tratou logo de “semear” suas idéias revolucionárias. Após sua morte, os animais se organizam e expulsam o Sr. Jones da granja. Os porcos passam a liderar, pois são considerados os animais mais inteligentes. Logo o lema da luta passa a ser de que o inimigo é aquele que anda sobre duas pernas. É  fundado o regime do “Animalismo”.Uma série de “mandamentos” são instituídos para todos seguirem.

A história de Orwell é considerada como uma fábula satírica, onde a realidade é retratada com um toque cômico. Quando o Sr. Jones era o dono da granja, explorava o trabalho animal em benefício próprio. Em troca ele “pagava” esses animais com uma alimentação razoável e nem sempre suficiente. É a comparação do sistema capitalista, onde quem mais trabalha menos ganha. Após a revolução, a idéia do porco Major era o de instituir a igualdade entre os seres, portanto o Animalismo se assemelha ao Socialismo, regime que não cultua a propriedade privada, onde todos são iguais e trabalham para o bem comum. No princípio até houve uma democracia, as idéias eram discutidas por todos. Havia dois porcos, Napoleão e Bola de Neve; que se tornaram líderes do movimento. Como já foi dito, os porcos eram os mais inteligentes, foram eles que aprenderam a ler e a escrever.

Com o passar do tempo, as idéias de Bola de Neve passaram a divergir com as de Napoleão. Bola de Neve é considerado mais popular e mais democrático. Já Napoleão é mais autoritário e egoísta. Bola de Neve propõe a construção de um moinho, mas Napoleão é contra. É feita então uma eleição na granja, para escolher um líder. Apesar da maioria ser a favor de Bola de Neve, Napoleão arma um golpe para expulsar Bola de Neve da granja e ser considerado um traidor. Os personagens lembram personalidades históricas; Major tem semelhanças idealistas como Karl Marx, Napoleão é autoritário e ditador, com uma administração corrupta, assemelhando-se a Stálin e por fim Bola de Neve lembra Trótski, rival de Stálin.

Após o exílio de Bola de Neve, o governo de Napoleão torna-se um pesadelo. Os porcos usam a liderança para conseguir cada vez mais benefícios para si mesmos e passam a negligenciar os demais animais. O Animalismo praticamente tornou-se uma ditadura. Os mandamentos do Animalismo são alterados a todo instante, sempre com o intuito de burlar as regras. Com isso, Napoleão estabelece vínculos comerciais com os homens, para acumular riquezas e ter regalias, tudo a custa de seus animais “empregados”. Ele passa a ser escoltado por grandes cães ferozes, que os chama cinicamente de “defensores da Revolução”, para coagir possíveis rebeldes.

A situação torna-se mais crítica quando os homens tentam retomar o poder da granja. Muitos animais morrem durante o confronto. Apesar da vitória dos bichos, a luta traz conseqüências gravíssimas. Napoleão insiste em dizer que por trás deste ataque está Bola de Neve e executa vários “supostos traidores”. Após alguns anos de liderança na granja, Napoleão já ocupava a casa do Sr. Jones, bebia álcool, vestia roupas e andava sobre duas pernas. Por isso a célebre passagem do final do livro, onde o autor deixa claro que já não era mais possível distinguir, quando reunidos à mesa, os porcos dos homens.

“Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais do que os outros”.

“Doze vozes gritavam cheias de ódio e eram todas iguais. Não havia dúvida agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco”.

Minha Opinião:

Um dos melhores livros que li este ano. Eu sei que a caminhada é longa, mas fiquei encantada com a história. Escrito a mais de setenta anos e tão atual. Sua obra além de uma crítica bem feita, é também um alerta de como o poder pode corromper as pessoas (digo, aqui animais!)

Nota: 💓💓💓💓💓

Curiosidades:

A Revolução dos Bichos é até hoje muito aclamado pelos críticos, considerado um dos melhores romances ingleses de todos os tempos. A obra pode ser considerada uma metáfora para narrar a traição soviética, onde princípios iniciais teriam sido esquecidos no decorrer da Revolução.

O Animalismo é uma ideologia fictícia que satiriza o Stalinismo.

Foi feito uma animação do livro de Orwell em 1954, sendo inclusive indicada ao prêmio Bafta de melhor animação em 1956. Tem no youtube, legendado em português. Acesse: https://youtu.be/xyjaZBnNdw0

 Sobre o autor:



George Orwell é o pseudônimo de Eric Arthur Blair, que nasceu na Índia Britânica. Foi escritor, jornalista e ensaísta político. Sua obra é marcada por uma inteligência perspicaz e bem humorada, com uma consciência profunda das injustiças sociais. Apontado como simpatizante da proposta anarquista, o entusiasmo do autor pelo socialismo democrático não foi abalado pela experiência do socialismo soviético, regime que Orwell denunciou em sua sátira “A Revolução dos Bichos”. Faleceu vítima de tuberculose na Inglaterra em 1950.





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